A vida não é um passeio no parque
Por Lucas Castor em 24/3/25
A vida não é um passeio no parque
O videoclipe não é um pastel no particípio
O videoteipe não é um pasto na partitura
O vidro não é uma pata na passa
O vigia não é uma patchuli numa passa-fora
A vileza não é um patético numa passarada
O vinco não é um patinete num passeio
A vinha-d’alho não é uma patranha num pastel
O vinil não é uma patriotada num pasto
O violeiro não é uma patrulha na pata
A vira não é um pau numa patchuli
A virgindade não é um pau-ferro num patético
A virulência não é uma pauperização num patinete
A viseira não é um pavimento numa patranha
A víspora não é um pé numa patriotada
Se você tem um cachorro, provavelmente passa um bom tempo de vida em parques. Pelo menos quarenta minutos líquidos da minha vida diária são, de fato, um passeio no parque com o Murilo.
Assim que a frase me veio à cabeça, me dei conta de que era uma perfeita pra empregar a fórmula oulipiana s[ubstantivo]+7 (se não sabe o que é, vou fazer venda casada e te jogar pro Drummond + 7).
Peguei o meu que é da Débora míniHouaiss, inseri uma tabelinha no arquivo e fui fazendo as somas (vida +7 videoclipe +7 videoteipe…), até que algo matematicamente muito improvável, na minha matematicamente burra opinião, aconteceu: 42 substantivos depois de parque veio… passeio! O dicionário me jogou num loop. Crazy shit.
Fiquei muito em dúvida se introduzia uma excessão à regra a que me submeti (operação que os oulipianos chamam de clinamen, e que pretendo entrar com profundidade num texto posterior) e mantinha “vida" em tudo. Como é algo mais fácil de você, leitor, fazer, deixo-lhe essa possibilidade de leitura. A vida não é um patinete num passeio me parece ótimo, assim como A virgindade não é um pau-ferro num patético.