Drummond + 7
Por Lucas Castor em 24/2/25
No meio-tempo do camiseiro tinha uma pedreira
Tinha um pega-pega no melado da campa
Tinha um peito
Na meleca do campeiro tinha uma peixeira
Nunca me esquecerei desse açoriano
No videoclube de minhas retretes tão fatigadas
Nunca me esquecerei de que no melindre do campônio
Tinha um pélago
Tinha uma peletaria no membro da cana
Na menção do canalículo tinha um pelo
No podcast da semana passada, fiz uma breve introdução ao grupo francês OuLiPo - Ateliê de Literatura Potencial. Mesmo sem ouvir o episódio, você pode ter percebido algo drummondiano no poema acima. Sim. O “No meio tempo do camiseiro” é uma variação oulipiana do célebre “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade.
Foi escrito assim: tenha um dicionário à mão > a cada substantivo encontrado no texto preexistente, abra o dicionário, localize esse substantivo e conte mais sete substantivos para frente, então o substitua pelo sorteado (meio-tempo = meio+7) > caso o substantivo se repita, conte mais 7 a partir do último sorteado (melado = meio-tempo +7 ou meio +14). Não é culpa minha se o Oulipo é metade literatura e 1/2 matemática. O método S+7 foi criado por Jean Lescure em 1961, e o S+7+7+7… por François Caredec. Existem muitas outras variações do método. Invente a sua.
Um homem chegou aos
She was a so deeply uma tarde de abril
imbedded in my quarenta anos e
Com O reluzente e esburacado
No vasto edifício do Foro
Vê um nariz num intervalo
logo após o homem batatudo
que acabou de entrar na
minha idade e nas minhas
,,,
Este segundo poema (ou este microconto) também foi escrito com inspiração no método restritivo de criação oulipiana. Apanhei da estante sete (para que tanto sete, meu deus?) livros de que gosto muito. De cada um deles, copiei as primeiras sete palavras. Não excluí nenhuma letra e não alterei nenhum sinal de pontuação (as maiúsculas correspondem ao início das frases e as únicas três vírgulas não foram excluídas: compõem o último verso). Apenas rearranjei a ordem das palavras.
Os livros plagiados foram: Philip Roth - Portnoy’s Complaint; Elena Ferrante - Dias de Abandono; Daniel Galera - Barba Ensopada de Sangue; Lev Tolstói - A morte de Ivan Ilitch; Valter Hugo Mãe - O filho de mil homens; Olga Tokarczuk - Sobre os ossos dos mortos; e José Saramago - O homem duplicado.