Doce de sconstruído
Por Cris Oliveira em 20/3/2025
Silêncio, o pai quer.
Nunca catou do pé, puxa a conversa. No tempo das laranjas era bom sentar tudo junto e descascar. Ganhava quem tirasse a casca espiralada, uma cada.
cio da tarde
espremer o suco
e se fartar de suco
a laranjada dos irmãos
milagre da estação
No colo da mãe, bacia; na mão, faca. Ela:
una jarra de jugo de naranja
una jarra de jugo de naranja
una jarra
jarra
no, mijo, jarra
jugo de naranja
naranja
sí, muy bien, naranja
Mãe andaluza analfabeta açúcar compota suspiro banana doce feito mel bolso balas paçoca farta mesa farofa perna roliça melancia boca gula coagula suor visão turva cara roxa.
Fatal.
Receptáculo de corpo e pote de compota: chão pra derramar. O céu é pra depois. O pai-menino engoliu, entendeu. Azedume súbito agrume.
CORTA -
Cena um de volta, ele. Minha mãe na escola não foi, já pensou? Nem no médico.
Triste quem não
pensa na velhice
quem não pensa
na velhice
triste
velhice
quem não pensa?
RODAPÉ -
“Da ficção”:
- qualquer história escrita é um atrevimento
- o que houve não foi escrito a tempo
- semelhança com pessoas ou fatos pode ser reles saudade
- invento do que não se ouviu ou viu
- ou não.