8 quadros de Thales Noor
Por Lucas Castor em 28/4/25
1 - Dois infinitos dão um finito? Tipo menos e menos? Dois peitos grandes caídos. Uma senhora farta e gentil vista de cima. Outra senhora farta e gentil ao contrário. Costas com costas. Um oito cruzado com outro oito. Tesoura com tesoura. A cento e a duzentos se esfregando com o meio. Os Eixinhos. Todo mundo adora os Eixinhos. Mas olho de perto e não encontro o Eixão. Uma tesourinha fora do Plano? Não é Brasília? Tá de sacanagem, Thales?
Parafina embaixo.
2 - Um pinto. Eu não o tinha visto até que a Débora me apontou. Um enorme pênis de árvores rasgando o, ou segundo engolido pelo, descampado é algo impossível de se desver. Olhe para o seu, ou para o de um amigo, e tente imaginar outra coisa. Você não vai ver o Freud lendo o sonho do paciente que viu um pênis entrando numa vagina e isso na verdade é um símbolo para um trem entrando no túnel. Ou seja, o órgão sexual masculino é o objeto menos imaginativo da nossa cultura. E o pior é que parece que ele tá gozando outras arvorezinhas no útero de uma estrada fina de terra. Se a minha esposa vê pênis em árvore, é porque eu não tô mostrando suficientemente o meu?
Parafina embaixo.
3. Estrada de terra larga bifurcando-se em ângulo aberto. Pernas escancaradas parindo um morro. Capô de fusca depilado. Árvores like bushes, que é como os anglófonos chamam pelos pubianos. O Thales me chamava de pervertido. Parece que ele tinha razão.
Parafina embaixo.
4. Bonito esse. Sóbrio. Natureza true. Duas estradinhas de terra se afastando, ou se aproximando (a beleza de uma foto é q que quem se movimenta é você). Uma delas engolida por uma massa disforme de vegetação tão escura que só pode ter uma nascente um riacho um laguinho ali. Quem diz que Brasília é deserto nunca foi ao deserto. É Brasília, Thales? Você me enganou?
Parafina embaixo.
5. Estranho. Elementos demais, mas nada muito bem definido, a não ser um laguinho que lembra os Estados Unidos e o México de cabeça pra baixo. Vish, um galpão. Brasília tem fábrica? Os estereótipos de uma cidade são mais verdadeiros que os de um grupo social, que os de uma pessoa? Em Brasília todo mundo é parente de político? Todo político rouba? O Arthur Lira é um mafioso? Vegetação esparsa. Parece um lugar feio.
Parafina embaixo.
6. Obsessão cartesiana. O Thales é um cara que chega atrasado, mas faz as coisas com precisão. O atraso dele é preciso. Dois triângulos dividindo o quadrado. Um deles, só vegetação. O outro, uma longa e larga estrada ligando os dois vértices do quadrado, depois uma estrada paralela, também em diagonal, ligeiramente torta num trecho (como se o satélite não tivesse tirado a foto exatamente de cima, como se fosse de um drone desalinhado). Algumas estrada cortando essas duas ao meio. Enfim, geometria simétrica. O Thales gosta dessas coisas. A gente tirou uma foto massa dele subindo uma pedra nessa vibe. Se você pensar bem, a vibração, esse movimento de onda, passa pelo seu cérebro como se você dirigisse pelo Eixão. A não ser que alguém gritando lhe dê um tapa na cara. Mesmo assim é meio liso.
Parafina embaixo.
7. Parafina encobrindo. Cidade. Bagunça urbana. Pouquíssima vegetação. Não me parece Brasília. Alguma região administrativa. Um campo de futebol de terra. Eu não conheço minha cidade o suficiente, Thales, obrigado por me lembrar disso. O trabalho do artista é fazer com que você se sinta a vergonha.
Parafina embaixo
8. Parafina você passa no mamilo quando vai surfar. Passa na pipa junto com cerol. Não, na verdade é cola. Parafina é vela. Tem gente que passa o dedo bem devagar pela chama. A parafina é um derivado do petróleo descoberto por Carl Reichenbach. Excelente brilho e odor reduzido. Combustível. Papelão, cosméticos, giz de cera, adesivos termofusíveis (hot melt), papel carbono, tintas, quadros de arte contemporânea. Se um dia encontrar um artista, a primeira pergunta que você deve fazer é o que significa a sua obra. Semelhante a quando você vê uma tatuagem em latim na fossa ilíaca de um michê. Você pergunta: o que significa? E o trem entra no túnel.
Parafina embaixo
Todos os quadros são do artista Thales Noor