Sequência de aindas
Por Cris Oliveira em 10/7/25
Tempo,
esse nutriente que tanto cobicei e do qual,
nesta minha nova encarnação, estou
farta. Pura falta de rumo, embora não
saiba de nada
que me tiraria de onde estou agora:
presa
neste corpo.
Minha mãe já tinha me
alertado, não somos
as mesmas depois do segundo tempo. Há pouco entendi
que ela se referia à nossa
demência
diante da deterioração
da sustança.
^
Onde
estou agora
tem quarto cama travesseiro
cadeira quadro televisão natureza-morta
barata armário espelho livros
salão de jogos capela jardim
nada meu.
Alguns amigos, roncos e peidos sem fim e, pasmem,
beijos de
boca banguela oca absorvente
feito buraco negro. Impossível
abrir mão de
gozos
quando escassos.
Comigo, aviso logo, só se for
de dentadura.
o o
Ontem foi meu aniversário,
me banhei e acendi uma vela que
roubei da capela.
Acendi e não apaguei, não seria boba de desperdiçar
divertimento.
A chama em movimento
e eu pensando
a mente pulsando
um pulsar inadiável.
~~
Até porque a moça do turno da tarde
num instante veio estragar tudo, entrou brava.
Não pode não, onde foi que a senhora
achou fogo
?!
Apagou, me cutucou.
Na outra
mão o copinho.
v
Toma; tomo.
O líquido cor-de-rosa
presunçoso
e denso.
Engoli,
rosnei, me enrolei
e
fechei os olhos
mais uma vez
abarrotando
Tempo,